Tuesday, August 22, 2006

O comunismo marxista-leninista




Islamismo, face marxista-leninista

1. No islamismo, também encontramos ecos do marxismo-leninismo. Surpreendente? Não. Nos pontos de contacto entre a antiga URSS e as regiões islâmicas, os métodos revolucionários do comunismo fascinaram intelectuais e líderes muçulmanos. Espantados? Porquê? Se os intelectuais de todo o mundo tinham como meta o esquerdismo radical, por que razão haveria de ser diferente com os intelectuais muçulmanos? (ou, neste ponto, o Orientalismo já interessa? Ou aqui os muçulmanos já são uns burrinhos que não entendem a complexidade do marxismo? Mas por que razão os muçulmanos seriam indiferentes ao marxismo quando todas as elites - sul-americanas, africanas, asiáticas, europeias, etc. - sucumbiram aos encantos da coisa?)

2. O paquistanês Maududi fundou um partido islamita - Jamaat I-Islami - à imagem do partido leninista típico. Al-Banna vivia impressionado com a URSS de Estaline. Estes intelectuais desenvolveram uma ideia inédita no Islão: a vanguarda revolucionária islâmica, destinada a lutar contra o Ocidente e contra a velha tradição islâmica. Não é por acaso que o egípcio al-Zawahiri, o ideólogo de bin Laden, considerou publicamente que Osama é o novo Che Guevara (ver aqui). Al-Qaeda é precisamente um instrumento vanguardista: uma elite revolucionária, isolada do mundo impuro, preparando o caminho para a revolução. Bin Laden é um recuperador da concepção milenarista do esquerdismo radical: refazer o mundo através de actos de terror dantescos.

3. Factos. Facto um: o terror revolucionário é uma invenção moderna; foi introduzido em 1789 e, no século XX, foi a arma de leninistas e fascistas. Facto dois: antes dos anos 70, o terrorismo era sinónimo apenas de ideologias europeias e não do Islão. A cronologia é uma velhaca, não é?

4.As influências marxistas-leninistas são evidentes no Irão. Durante a sua estadia em Paris, o iraniano Shari’ati, um dos precursores de Khomeini, traduziu e absorveu trabalhos de ícones da esquerda radical (Guevara, Fanon). O marxismo tornou-se na sua ferramenta analítica. O al-Corão deixou de ser um mero guia religioso e passou a ser uma espécie de manual de acção, um manual de conquista do poder. Em 1979, a ideologia desenvolvida por Qutb, Maududi e Shari’ati foi aproveitada por Khomeini numa tarefa revolucionária: seduzir uma geração inteira de jovens influenciada pela cultura revolucionária mais influente do mundo - marxismo-leninismo. Sim, por que razão os jovens persas seriam diferentes de todos os jovens radicais do mundo? Já no poder, o islamismo de Khomeini copiou o bolchevismo. Já criada (e acarinhada por Foucault), esta República voltou a imitar a URSS: também exportou a sua revolução. O Hezbollah funciona como uma espécie de Comintern islâmico.

5. Esta componente marxista-leninista reforça a condição revolucionária do islamismo. Há que distinguir o qutbista revolucionário do wahhabita. O wahhabita tem "somente" uma agenda social. Pretende dominar apenas a sociedade. É um purista. O verdadeiro fundamentalista. Este, sim, vive na Idade Média. O wahhabismo não é uma religião política. E aqui está a diferença: o islamismo qutbista é precisamente isso: uma religião política. Tal como o leninista, o islamita é senhor de uma doutrina armada, uma ideologia preparada para destruir qualquer oposição à sua verdade. Segue à risca uma máxima de Lenine: «aniquilação impiedosa do inimigo». E quer Estados...

[Henrique Raposo] - O ACIDENTAL

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